O plano financeiro do consultório talvez seja uma das partes do plano de negócios mais “negligenciada” pelos dentistas. Talvez envolva cálculos (alguns deles até complexos para o profissional de saúde.
O conhecimento da saúde financeira do consultório se faz necessário para o bom andamento da empresa no mercado odontológico. Parece algo óbvio, mas MUITOS dentistas não têm a menor noção de como andam as contas.
Caso você não tenha concordado com o parágrafo acima, te farei algumas perguntas sobre o plano financeiro do consultório:
- Você sabe qual é o seu custo fixo mensal?
- Você sabe qual é a média do seu custo variável mensal?
- Você sabe qual o valor da hora clínica?
- Você sabe qual o procedimento que te rende mais lucro, levando-se em conta só os custos fixo?
- Se você atende convênios, você sabe qual é o procedimento que dá prejuízo ao invés de lucro?
Perceba que não são perguntas difíceis, porém básicas para determinar a precificação dos procedimentos odontológicos. E muitos dentistas não sabem destas informações.
O resultado disso é que terminam chutando os preços que irão cobrar baseados no que acham que merecem ou no que a concorrência cobra. Em outras palavras, se você não sabe quanto gasta, não saberá quanto deve cobrar.
A construção do plano financeiro do consultório odontológico começa com o conhecimento de determinados pontos vitais para a saúde financeira da empresa. Discutiremos abaixo.
Elementos que compõem o plano financeiro do consultório
Investimento total
Chamamos de investimento total aquele relacionados ao funcionamento do consultório. Este item é dividido em três partes:
1. Investimentos fixos
São aqueles investimentos que permitirão o atendimento odontológico propriamente dito. Equipo odontológico, ar condicionado, autoclave, compressor, materiais de consumo e limpeza etc.
2. Capital de giro do consultório
Entende-se por capital de giro montante de recursos necessários para financiar o funcionamento do consultório odontológico, incluindo todos os custos e despesas (fixos e variáveis). Para calcular o capital de giro, algumas informações são necessárias:
2.1 Estimativa de estoque inicial
Consiste no levantamento do estoque para realizar o atendimento. Eu sei que possuímos diversos materiais que fazem parte do atendimento e, muitas vezes, fica muito difícil ou até mesmo inviável.
A dica que dou é: qual a quantidade mínima para permitir o atendimento na especialidade que você atende? Por exemplo, se você trabalha com cirurgia oral menor, levante os materiais mais comumente utilizados (anestésico, gaze, fio de sutura, soro fisiológico, etc.).
Faça uma estimativa da quantidade do material acima para durar um mês. Desta forma, você já vai ter uma média de quanto gasta por mês com estoque.
2.2 Caixa mínimo
Conhecido também como capital de giro próprio, consiste no capital mínimo que você terá que ter no caixa para pagar suas contas. Aqui você terá que levar em consideração alguns pontos:
- Estimativa de estoque inicial (tópico anterior);
- Prazos e preços de pagamento ofertados a seus clientes (se dividiu em 2x, 3x, 4x, etc.);
- Prazos e preços da entrega dos produtos por parte dos fornecedores (se dividiu as compras de materiais em 2x, 3x, 4x, etc.);
- Despesas em geral (custos fixos, variáveis e demais despesas).
3. Investimentos pré – operacionais
Todo e qualquer investimento realizado previamente o início das atividades do consultório. Corresponde a custos de marketing para uma pré divulgação, custos burocráticos (vigilância sanitária, prefeitura, bombeiros, etc.), gastos com reforma, dentre outros.
Estimativa de faturamento mensal do consultório
Consiste em levantar (ou criar uma projeção) uma média do faturamento mensal do consultório. Se você já tem o consultório em funcionamento, fica bem mais fácil fazer isso.
Caso você não tenha, uma maneira de fazer isso é fazendo um cruzamento das especialidades atendidas x capacidade instalada (número de atendimentos que o consultório consegue fazer em um determinado período de tempo).
Por exemplo, se você trabalha com ortodontia, consegue atender 8 pacientes por turno, trabalha de 3 dias inteiros por semana (totalizando por mês 24 turnos) e cobra R$ 70,00 na manutenção, seu faturamento máximo será de:
8 pacientes x 24 turnos x 70 = R$ 13.440,00
Claro que esse é o exemplo do faturamento MÁXIMO, que seria um mundo maravilhoso. Afinal, coloquei que o dentista tem agenda cheia todos os dias e que não há faltas dos pacientes, algo praticamente impossível em se tratando de um consultório recém aberto.
Mas este cálculo é importante para se criar um parâmetro. Se o consultório tem pouca ou nenhuma informação sobre o faturamento mensal, uma sugestão é começar com um valor de 20% a 30% do faturamento mensal máximo.
Estimativa dos custos dos colaboradores
Este item do plano financeiro do consultório refere-se ao levantamento dos custos com os integrantes do consultórios, que vão desde a secretária e auxiliar de saúde bucal até os dentistas parceiros que prestam serviços no local. Tal informação pode ser obtida facilmente com seu contador.
Cálculo da depreciação dos equipamentos
Aqui é algo que pouquíssimos profissionais realizam, o que é algo natural. Afinal, é normal NÃO pensar em trocar um equipamento ou aparelho antes de apresentar defeito, confere?
Todavia, este item é importante no plano financeiro do consultório, até mesmo para saber quanto vale seu consultório, pelo menos no quesito estrutural. Por exemplo, o site da receita federal disponibiliza uma média da vida útil dos equipamentos e outros:
Por exemplo, se o seu equipo custou R$ 10.000,00, se ele tem uma vida útil de 10 anos, a cada ano ele perde 10% do valor, isto é, R$ 1.000,00. Qual a importância de saber disso? Afinal, são 10 anos!!
Primeiro porque, se um dia você quiser vender seu consultório ou colocar algum sócio, você terá como saber qual o valor dos seus equipamentos para colocar no preço que será repassado. Lembro que há outras variáveis que são colocadas na hora de se estabelecer quando vale seu consultório.
Segundo porque vai te permitir saber quanto terá que juntar por mês para substituir o equipamento antes de começar a apresentar defeitos. Não precisa esperar o equipamento quebrar para trocá-lo.
É importante lembrar que o tempo de vida útil que a receita informa é uma média. Equipamentos que são mais utilizados têm um menor tempo de vida útil.
Levantamento (estimativa) dos custos operacionais
Nada mais é do que levantar os custos fixos relacionados ao funcionamento do seu consultório. Esta informação é importante para o plano financeiro do consultório e para a determinação do valor da hora clínica.
Cálculo dos indicadores de viabilidade do negócio
Como o nome já sugere, são indicadores que mostram o andamento da saúde financeira do seu consultório, identificando se ele é (ou será) viável. Discutiremos quatro deles:
- Lucratividade
Identificará quanto de lucro em um determinado período de tempo o consultório está produzindo. Ele mostra se a receita oriunda da venda de serviços é suficiente para pagar as contas e ainda gerar lucro.
Segundo o SEBRAE, a lucratividade de uma micro ou pequena empresa (na qual se encaixa a maioria dos consultórios) é de 5% a 10%. Porém, o lucro do serviço odontológico tende a ser um pouco maior (na casa dos 30%).
Lucratividade = (Lucro líquido / receita total ) x 100
- Receita total = número de serviços odontológicos vendidos
- Lucro líquido = lucro bruto – custo total (fixo + variável)
Rentabilidade
Identifica se o consultório está sendo rentável ou não. Apesar de haver uma confusão entre rentabilidade e lucratividade, são conceitos bem diferentes. Por exemplo, um consultório pode ser lucrativo e não pode ser rentável.
Se você investiu R$ 50.000,00 para abrir seu consultório e ele oferece uma lucratividade de R$ 1.000,00 todo mês, ele é LUCRATIVO (pois está gerando lucro) mas pouco RENTÁVEL (porque pagará o investimento após 50 meses).
Rentabilidade = ( lucro líquido / investimento total ) x 100
Segundo o SEBRAE, a rentabilidade esperada para micro e pequenas empresas é de 2% a 4% ao mês sobre investimento.
Ponto de equilíbrio (PE)
Também conhecido como Breaking even point, consiste no famoso jogo empatado, isto é, seus ganhos não te permitiram ter LUCRO, mas também você não teve PREJUÍZO. Para muitos consultórios, alcançar o PE nos primeiros meses de vida é um sonho.
O cálculo consiste no levantamento dos custos fixos totais e da margem de contribuição (valor do produto – custos e despesas variáveis). Vamos a um exemplo sobre margem de contribuição:
- Preço do serviço: R$ 500,00
- Custo variável do produto que será utilizado (por exemplo, se o caso em questão fosse um clareamento, será o preço do gel clareador): R$ 100,00
- Despesa variável (no caso, os impostos. Vamos trabalhar com 15%): R$ 75,00
- Margem de contribuição = 500 – 100 – 75 = R$ 325,00
- Índice de margem de contribuição = Margem de contribuição (325) / preço do serviço (500) = 65%.
Ponto de equilíbrio = ( CUSTO FIXO TOTAL / MARGEM DE CONTRIBUIÇÃO ) X 100
Prazo de retorno do investimento
Consiste em determinar o prazo de retorno sobre o investimento realizado para abrir o consultório. Juntamente com a rentabilidade, este indicador do plano financeiro do consultório é um indicador de atratividade do negócio.
Prazo de retorno do investimento = investimento total / lucro líquido
Por exemplo, se seu investimento total foi de R$ 50.000,00 e seu lucro líquido foi de R$ 20.000,00, seu prazo de retorno foi de 2,5 anos, isto é, a partir deste cálculo, você levará 2 anos e meio (30 meses) para recuperar seu investimento.
Até entendo que a realização do plano financeiro do consultório é um pouco chato de se lidar, porém é MUITO importante que você saiba pelo menos a teoria disso para poder discutir com que vai fazer a prática (no caso, geralmente é o contador).
Mas o que quero que você entenda é que NUNCA deve deixar de lado este assunto, independente se ele vai ser feito por você ou por terceiros.
Leitura recomendada:
- Quanto vale seu consultório?
- Atendimento a convênios odontológicos: lucro ou prejuízo?
- 7 dicas para reduzir custos no consultório
- Como fazer um plano de negócios para seu consultório – Parte I
- Elaborando um plano de negócios para seu consultório – parte II
- Plano de marketing do consultório: criando o plano de negócios – parte III
- Como otimizar o atendimento no consultório? Plano de negócios: elaborando o plano operacional – parte IV
- Conceitos de gestão: importante saber
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Grande abraço e até a próxima postagem!
Wilson Correia Jr.