Há algumas semanas, recebi uma dúvida de uma dentista sobre uma possível parceria entre uma clínica médica e uma odontológica. Essa junção ou qualquer outra categoria consiste na criação de uma clínica multiprofissional, que nada mais é do que uma clínica formada com profissionais de categorias diferentes.
De antemão, digo que não há nada mais conveniente realizar tudo em um só lugar, principalmente se a clínica multiprofissional contiver profissionais de categorias diferentes, porém que podem se completar, como é o caso do otorrino e do dentista, quando o paciente relata dor de ouvido, a causa auricular foi descartada e o dentista vai investigar uma possível DTM. Outro exemplo dessa junção seria um ortopedista com um fisioterapeuta no mesmo lugar, por exemplo.
Do outro lado, sabemos que não é algo comum. Em geral, há apenas uma junção de diferentes profissionais em um mesmo lugar, o que não deixa de ser certo, porém com objetivos diferentes.
A verdade é que, dependendo de como ocorra esta sociedade, poderá ser bem interessante a todos, principalmente levando-se em conta que determinadas profissões e especialidades têm um fluxo de pacientes absurdamente grande, aumentando a chance de demanda espontânea.
Parto do pressuposto que já existe uma clínica montada e estruturada, e que haveria apenas a inclusão de um determinado profissional a fim de se obter uma complementação mútua de serviços. Então, vamos lá:
É fato que um médico tem um giro de pacientes bem maior que os dentistas por diversos motivos, principalmente pela importância que ele dá àquele problema (se não tratar, poderei morrer!) e pelas inúmeras possibilidades de doenças que podem ocorrer, diferente da Odontologia.
Logo de cara, só este argumento já seria bem interessante na hora de se criar uma clínica médico-odontológica. Afinal de contas, uma clínica multiprofissional com o alto giro de pessoas fatalmente aumentaria a probabilidade de demanda espontânea para todos os demais profissionais.
Outro aspecto importante é a indicação direta profissional – profissional. Por exemplo, um Ortopedista tende a solicitar com uma certa frequência que o paciente realize sessões de fisioterapia. Logo, para o fisioterapeuta, uma parceria dessas é bastante interessante.
Trazendo para Odontologia, uma clínica multiprofissional no qual há um ginecologista poderá ser bem atrativa ao dentista, uma vez que é MUITO comum que o ginecologista solicite à gestante um acompanhamento do dentista a fim de prevenir problemas de saúde bucal que possam causar intercorrências durante a gestação, como a doença periodontal.
Outro exemplo é no tratamento da gastrite com presença da bactéria Helicobacter pylori, cujo tratamento requer também remoção da placa bacteriana ou tártaro na superfície dentária. Logo, outra especialidade médica que poderia indicar mais pacientes ao dentista.
Poderia citar aqui diversos exemplos. Um geriatra pode fazer uma excelente parceria com um implantodontista ou protesista. Um fonoaudiólogo poderia fazer uma excelente parceria com um ortodontista.
Do outro lado, há especialidades médicas que pouco indicam para dentistas. E o oposto também ocorre. Por exemplo, em geral, o público de ortodontia é adolescente e adulto jovem, tendo pouca relevância para um geriatra.
O que você deverá levar em conta na hora de montar ou fazer parte de uma clínica multiprofissional?
Alguns aspectos deverão ser levados em conta na hora de partir para uma parceria deste tipo:
- Complementação das especialidades: como mencionei acima, é interessante que as especialidades se completem ou que, pelo menos, haja profissionais que gerem um alto giro de pacientes, como um dentista / médico clínico geral;
- É importante deixar claro qual será o público-alvo. Há algum tempo, torci meu pé e fui a um centro de traumatologia aqui em Recife. Percebi que havia um setor de fisioterapia. O problema é que a clínica atende, em sua maioria esmagadora, pacientes de convênios, e o setor de fisio atendia apenas particulares. O resultado disso é que havia pouquíssima indicação a este setor;
- Tente colocar tudo isso em contrato, principalmente se houver divisão de percentual para os gestores da clínica;
- Determinados profissionais, como algumas especialidades médicas, podem apresentar dificuldades no cumprimento de horários em decorrência da própria rotina profissional (o médico poderá ficar preso em alguma cirurgia);
- O marketing da clínica deverá ser bem estudado. Algumas profissões apresentam um código de ética bastante rigoroso, como é o caso da odontologia e medicina.
- Ainda sobre o marketing em saúde, todas as especialidades deverão ser divulgadas;
- Nem pense em entrar numa clínica multiprofissional que não tenha um nome fantasia. Já pensou uma propaganda de rádio dizendo: CLÍNICA MÉDICO- FISIOTERÁPICO -ODONTOLÓGICA?
- Uma parceria com um laboratório com certeza traria MUITO movimento à clínica multiprofissional.
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Grande abraço e até a próxima postagem!
Wilson Correia Jr.